sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sobre a Televisão


Santa Clara, padroeira da televisão
Que o menino de olho esperto saiba ver tudo
Entender certo o sinal certo se perto do encoberto
Falar certo desse perto e do distante porto aberto
Mas calar
Saber lançar-se num claro instante


Santa Clara, padroeira da televisão
Que a televisão não seja o inferno, interno, ermo
Um ver no excesso o eterno quase nada (quase nada)
Que a televisão não seja sempre vista
Como a montra condenada, a fenestra sinistra
Mas tomada pelo que ela é
De poesia


Quando a tarde cai onde o meu pai
Me fez e me criou
Ninguém vai saber que cor me dói
E foi e aqui ficou
Santa Clara


Saber calar, saber conduzir a oração
Possa o vídeo ser a cobra de outro éden
Porque a queda é uma conquista
E as miríades de imagens suicídio
Possa o vídeo ser o lago onde narciso
Seja um deus que saberá também
Ressuscitar


Possa o mundo ser como aquela ialorixá
A ialorixá que reconhece o orixá no anúncio
Puxa o canto pra o orixá que vê no anúncio
No caubói, no samurai, no moço nu, na moça nua
No animal, na cor, na pedra, vê na lua, vê na lua
Tantos níveis de sinais que lê
E segue inteira


Lua clara, trilha, sina
Brilha, ensina-me a te ver
Lua, lua, continua em mim
Luar, no ar, na tv
São Francisco

-------------------------

O TRISTE É SABER QUE A MÍDIA, ASSIM COMO A TV É AINDA ASSIM

Antes de atirar o vaso na tv, Eu ouvi o que ela dizia:
"Quando não houver mais amanhã... Será um belo dia"


Estranha coisa pra se dizer, antes de dizer os números da loteria
Mas é assim que eles fazem, E fazem muito bem
E nós não fazemos nada, nada, nada, Nada além

Além do mito, Que limita o infinito
E da cegueira
Dos guardas da fronteira

Antes de atirar minha tv pela janela, Eu ouvi o que ela dizia:
"Quando não houver mais ninguém, Será um belo dia"


Estranha coisa pra se dizer, Antes de vender mais mercadoria
Mas é assim o mundo que nos cerca, Nos cerca muito bem
E as crises e cicatrizes, Não nos deixam ir além

Além do mito que limita o infinito

E da cegueira, Das barreiras das fronteiras


Foi então que eu resolvi jogar

As cartas na mesa e o vaso pela janela
Só pra ver o que acontece na vida
Quando alguém faz o que quer com ela


Acontece que eu não tenho escolha
Por isso mesmo é que eu sou livre
Não sou eu o mentiroso
Foi Sartre quem escreveu o livro
Não sou afim de violência
Mas paciência tem limite


Além do mito que limita o infinito
Além do dia-a-dia
Que esvazia a fantasia
Além do mito que limita o infinito
Além do dia-a-dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário